domingo, 18 de dezembro de 2016

Por que somos contra essa reforma do ensino médio (MP 746/2016) ?- Relato do Profº Ms Marcelo Pedrosa de Resende

Por que somos contra essa reforma do ensino médio (MP 746/2016) ??

O Grupo de Estudo da Localidade – ELO e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (Campinas) – AGB realizaram no dia 1 de dezembro mesa redonda na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP Ribeirão Preto para discutir a Medida Provisória 746 que trata da reforma do ensino médio. A mesa contou com as presenças da Prof.ª Drª Cristina Pedroso/FFCL – USPRP, da Prof.ª Drª Clarice Sumi Kawasaki /FFCL – USPRP, da Prof.ª Mª Rosani Cristina Rigamonte/FaFem, da Profª Sandra Maciel Nunes/E.E. Cid de Oliveira Leite – mestranda FFCL-USPRP e como mediadoras a Prof.ª Drª Andréa Coelho Lastória/FFCL – USPRP - coordenadora do Grupo ELO e Daniela L. Nardi Gomes/mestranda FFCL – USPRP.
Os participantes inicialmente mostraram certa indignação de como uma matéria tão relevante que demanda uma discussão ampla e profunda pode ser tratada por meio de uma medida provisória o que deixa claro a forma de como governo federal encara a educação neste país. Mas os debatedores se pautaram na questão técnica.
A MP que estabelece a reforma no ensino médio no Brasil, prevê que o currículo dessa etapa de ensino seja definido pela BNCC (Base Nacional Curricular Comum) que ainda não está concluída, mas o texto base da reforma já foi aprovado pela Câmera dos Deputados que votará os destaques (emendas propostas por parlamentares) e então encaminhará para votação no Senado. É bom considerar que a BNCC estabelece os conteúdos mínimos que os estudantes devem aprender a cada etapa da educação básica, do ensino infantil até o ensino médio. Pontos foram destacados e mereceram algumas considerações como a proposição da possibilidade de escolha de diferentes trilhas de formação tradicional e técnica, educação integral e autorizar a contratação de professores sem licenciatura, mas que apresentem “notório saber”.
Quanto a organização curricular, a formação básica comum que atualmente é garantida nos três anos do Ensino Médio passaria a ser dada em apenas a metade desse tempo.  Determina que o ensino de língua portuguesa e matemática será obrigatório nos três anos do ensino médio (Art.36, §9º). Restringe a obrigatoriedade do ensino da arte e da educação física à educação infantil e ao ensino fundamental, tornando as facultativas no ensino médio (Art. 26, § 2º e 3º). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) também está sendo alterada em outros pontos com relação ao currículo:  Filosofia e Sociologia.
O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular - BNCC e por itinerários formativos específicos definidos em cada sistema de ensino e com ênfase nas áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional (Art. 36).
Assim do ponto de vista da organização curricular, a MP 746/2016 retoma um modelo já experimentado nos tempos da ditadura militar, trazendo de volta a divisão por opções formativas.
É importante ressaltar que quem determinará a área a ser cursada será o sistema de ensino, termo amplamente utilizado no texto da MP, e não será o estudante a escolher o itinerário com o qual possui maior afinidade como preconiza a propaganda veiculada na grande mídia.
Portanto, será o sistema de ensino a definir, conforme sua própria disponibilidade, o que cada unidade escolar irá oferecer.
Essa medida, fere a autonomia das escolas na decisão sobre seu projeto político pedagógico, o que hoje está assegurado na LDB e que será alterada pela Medida Provisória.
Outro ponto que chama atenção é criação da Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral que amplia a carga horária mínima anual do ensino médio, progressivamente, para 1.400 horas (Art.24, §único).
Ainda que ampliar o tempo de permanência na escola possa ser interessante, tem que se ter clareza qual é a proposta pedagógica que irá sustentar a maior permanência dos adolescentes e jovens na escola.
A jornada de tempo integral necessita de reestruturação do ambiente físico e material da escola e uma diversificação das atividades oferecidas e parece muito preocupante ainda mais quando o Congresso e o palácio do planalto se esforçam pela aprovação da PEC do teto dos gastos que tem a educação como um dos alvos.
Outra questão é o denominado “Notório Saber”. Validar uma outra possibilidade de atuação na docência não oriunda dos cursos de licenciatura legalmente sustentados, coloca-se, assim, em colisão com a LDB/96. (Art.61, IV)
Representa uma afronta às lutas pela profissionalização docente que se sustenta na institucionalização de sua formação, em bases teóricas e práticas de longa duração e ainda não se sabe como vai mensurar a qualidade dessa modalidade.
A necessidade de restruturação do ensino médio parece ser clara, mas a forma como está sendo feita é um grande retrocesso, ignorando os maiores pilares do estado democrático como ampla discussão por parte dos profissionais da educação e principalmente da sociedade.

Profº Ms Marcelo Pedrosa de Resende

Membro do Grupo ELO


Da esquerda para direita: Prof.ª Drª Clarice Sumi Kawasaki, Profª Sandra Maciel Nunes,
 Prof.ª Mª Rosani Cristina Rigamonte Prof.ª Drª Andréa Coelho Lastória  e Prof.ª Drª Cristina Pedroso.
Fotografia do Profº Ms Marcelo Pedrosa de Resende, dez.2016.


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