domingo, 1 de março de 2015

Manifesto sobre a Greve de Professores e Universidades no Paraná


MANIFESTAÇÕES DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO NO

ESTADO DO PARANÁ

 

Profa. Maria Antônia de Souza – UEPG

masouza@uol.com.br

 

“O que busco é o entendimento da história, e não a concordância, aprovação ou comiseração” – Eric Hobsbawn - Tempos Interessantes

 

 
INTRODUÇÃO
Esta breve reflexão tem o intuito colaborar com a divulgação e compreensão da luta pela educação em marcha no estado do Paraná, fevereiro de 2015. As redes sociais têm possibilitado a divulgação, em tempo real, dos principais acontecimentos. De um lado, são divulgadas notícias e imagens feitas por nós professores e nossas organizações e, de outro lado são veiculadas imagens e afirmações vindas do Poder Executivo e do Poder Legislativo. É necessário reconhecer os sujeitos em cena, os lugares, a ideologia e o projeto político de país que defendem. No âmbito macro das relações, há que se registrar a retomada da força do ideário neoliberal, com ela, todo um aparato ideológico e político de convencimento da maioria da população. As campanhas eleitorais revelaram a busca de convencimento do eleitor individual e dos grupos sociais organizados. As demandas dos grupos sociais são tratadas individualmente e, muitas vezes, com compensações político-econômicas, enfraquecendo a luta maior. Não podemos cair na individualização dos problemas das sete universidades públicas estaduais, por exemplo, pois todas enfrentam problemas de natureza infraestrutural e de recursos humanos. Há muito tempo as universidades lutam para continuar em funcionamento. Quem luta? Por que luta? Professores e alunos saem às ruas, praticamente todos os anos, para denunciar as fragilidades da “educação pública gratuita”. Por quê? A quem interessa o desmantelamento das universidades públicas? Seriam grupos financeiros os maiores interessados? Por que determinados técnicos e administradores de empresas são contratados para compor equipes governamentais? Por que o Secretário da Educação não é escolhido entre os pares, entre os professores? Todos os secretários são cargos de confiança do Poder Executivo. A qual lógica isso interessa? Por que a maioria dos deputados também é ideologicamente do mesmo grupo do chefe do Executivo, no caso do estado do Paraná? A quem isso interessa? Certamente não é à sociedade brasileira, à classe trabalhadora.
Precisamos ficar atentos ao movimento da história, à capacidade da burguesia revolucionar permanentemente as relações sociais, o aparato ideológico. Economia, Estado e Sociedade Civil, como se manifestam historicamente no Brasil? O que mudou na Economia nos últimos anos? O que mudou na Educação, nas lutas da sociedade civil? Há um projeto para se contrapor à hegemonia neoliberal ou do capital? Na década de 1990 houve muito debate entre os movimentos sociais, marchas do MST pelo Brasil, debate de um Projeto Popular para o Brasil. E, hoje, o que temos? O forte aparato ideológico faz com que professores, hoje engajados nas manifestações sociais, não queiram debater movimentos sociais de trabalhadores em suas aulas. Em nome da neutralidade, defendem o avanço do capital em suas mais diversas formas e perversidades, que se expressam nas relações sociais e na materialidade da vida.
A construção da escola pública no Brasil é fruto de lutas populares e iniciativas governamentais, com marcas importantes na década de 1930, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação. Década de 1940 foi repleta de movimentos populares urbanos lutando por escolas públicas, com pautas que foram adensadas ao longo das décadas. Segunda metade do século XX foram criados os programas de pós-graduação stricto sensu, com significativo crescimento a partir da década de 1990. Em meio ao projeto neoliberal defendido no Brasil por Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, as universidades públicas ampliaram o número de cursos, vagas, programas de iniciação científica, programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, projetos de extensão entre tantas outras frentes. As sete universidades públicas estaduais do Paraná, surgiram em contextos políticoeconômicos diferentes, porém atingiram o grau de excelência nas atividades de Ensino, Extensão e na Pesquisa. A UEPG e a UEM foram criadas no findar de 1960. A UEL foi criada em 1970 e a UNIOESTE em 1988. Já a UNICENTRO foi criada em 1990; a UENP em 2006 e a UNESPAR no ano de 2013. Essas datas são importantes para a constatação do quanto é, no mínimo, contraditório, a proposição governamental de “não custeio das universidades públicas”. São universidades que atendem demandas do Paraná e do Brasil, acrescidos aos estrangeiros que nelas estudam. Possuem projetos com indígenas, camponeses, comunidades quilombolas e faxinalenses, criados nos últimos anos, fruto das lutas e conquistas dos movimentos sociais no contexto nacional. Bem verdade que essa construção de projetos sociais foi forçada pelos movimentos sociais, pois não podemos nos enganar com o fato de que a universidade, em muitas localidades, possui “cercas” que defendem a propriedade privada e os valores mais conservadores da “tradição, família e propriedade privada”.
O “não repasse da verba de custeio” das universidades tem sido apenas um dos pontos de pauta das organizações sindicais. A questão de fundo é a perda social e a consequente exclusão que poderão advir do projeto de governo. Projeto fortemente comprometido com o retorno/fortalecimento do ideário neoliberal ao estado do Paraná, com especial ênfase para a privatização de serviços públicos. A ideologia difundida é a de que o serviço é oneroso ou de que está precarizado. Em nome da recuperação da coisa pública, passa-se para o plano privado a efetivação de direitos sociais – não mais como direitos sociais e responsabilidade do Estado, mas como direitos humanos de responsabilidade de cada um. Temos que estar atentos aos discursos oriundos do Poder Executivo e do Poder Legislativo no estado do Paraná, ambos afinados com equipes e coletivos empresariais nacionais e internacionais, cujos interesses não coincidem com as necessidades, lutas e proposições da classe trabalhadora. Processos de negociação, inerentes à democracia somente são efetivados mediante pressão social para com o governo. E a pressão social ocorre quando? Quando a classe atinge um grau de conscientização coletiva ou de um grau de barbarização da vida e das condições de trabalho. Pode-se dizer que no estado do Paraná são as duas coisas: de um lado a ampliação da porcentagem dos tributos pagos ao Estado e de outro lado a deterioração das condições de trabalho, o risco da perda de direitos sociais, o acúmulo de problemas na área educacional, desde relações precárias de trabalho – contratos temporários, longas jornadas e atividades em mais de uma escola etc – até aspectos infraestruturais e de gestão escolar, a exemplo do excessivo número de alunos em salas de aulas ou o fechamento de escolas e turmas. 
A luta pela educação tem que estar relacionada com projeto de sociedade, não reduzida a pontos particulares de categorias ou de IES. A universidade atende a qual projeto de sociedade? Qual é o lugar do “conhecimento” no projeto societário em defesa nas universidades? É momento para pensar no assunto, no projeto político de universidade pública, para além das particularidades de cada IES. Quem fragmenta a luta é o chefe de governo, para poder governar! Os movimentos sociais, com projeto definido, refinam os objetivos da luta, fortalecem os seus princípios para evitar o rompimento das ideias, marchas e o enfraquecimento do enfrentamento.
 
OS PRINCIPAIS ATOS E FATOS
No tempo recente, outubro de 2014, ocorreu a reeleição do governador do estado do Paraná, Carlos Alberto Richa, do PSDB, em primeiro turno. O governador foi reeleito com 55,67% dos votos. Na condição de candidato a governador, prometeu valorizar a escola pública e os educadores, não fugindo à regra do discurso conservador que marca o projeto hegemônico de sociedade. Tendo tomado posse do governo do estado, nomeou para a Secretaria de Estado da Educação o senhor Fernando Xavier Ferreira[1] e para a Secretaria da Fazenda foi nomeado o senhor Mauro Ricardo Costa[2]. Importante conhecer o perfil dos nomeados para compreender como se fortalece o projeto societário e nele o projeto de desmonte das conquistas na área da educação. Tendo assumido o Poder Executivo, as primeiras iniciativas na área da educação foram tomadas e dentre elas destacam-se: 
1)     Cancelou o processo de eleição de diretores das escolas previsto para novembro de 2014, para o qual as escolas já estavam organizadas em comissões, haviam realizado assembleias etc.
2)     Interferiu nas escolas menores, especialmente as localizadas no campo, impedindo matrículas para alunos dos 6ºs anos e dos 1ºs anos do Ensino Médio. Essa ação resultará no fechamento de escolas, inclusive, sem a observância do parágrafo único inserido no art. 28 da LDB 9394/96, em março de 2014, pela Lei 12.960, que expressa que “O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar”. Essa interferência foi objeto de discussão, no mês de dezembro de 2014, em reunião da Articulação Paranaense Por Educação do Campo3.
3)     Atrasou o pagamento de 29 mil professores contratados temporários do estado, segundo informes publicados por APP-Sindicato.
4)     Deixou de pagar o terço de férias do funcionalismo do estado. No momento, 20/2/15, foi anunciado que terço de férias será pago em 3 parcelas, o que não é aceito pelos movimentos sindicais.
5)     Atrasou o repasse dos recursos do Fundo Rotativo para as escolas públicas.
                                                          
foi superintendente da Zona Franca de Manaus; presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).
3 As pautas de reivindicações dos povos do campo, no estado do Paraná, encontram-se disponíveis em http://apecpr2011.blogspot.com.br/. Acesso em 20/2/2015. Trata-se de um importante coletivo estadual que faz enfrentamentos com o governo.
6)     Ameaçou de interrupção e atraso no repasse de verbas de convênios com escolas Itinerantes vinculadas aos acampamentos e assentamentos de reforma agrária. Ameaçou o fechamento das Casas familiares Rurais, que no estado do Paraná são 42 casas. Esses problemas vêm sendo discutidos pela Articulação Paranaense Por Uma Educação do Campo, supracitada.
7)     Encaminhou o PL – Projeto de Lei sob nº 60/2015 com proposição de alteração orçamentário e forte impacto em direitos adquiridos para a Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), no dia 4/2/2015.  A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná divulgou Nota Pública[3] manifestando posição totalmente contrário ao referido PL. Também, o governador encaminho o Projeto de Lei Complementar – PLC – sob nº 6/2015. 
 
Soma-se a tais ações a não contratação de docentes aprovados em concursos públicos nas universidades estaduais. Concomitantemente, determinou o aumento do IPVA – imposto sobre a propriedade de veículos automotores – e tarifa do ICMS – imposto sobre circulação de mercadorias e serviços. Não bastasse, taxou em 11% o salário dos aposentados do estado. O IPVA teve alíquota de 2,5% modificada para 3,5%, aprovado no dia 9 de dezembro de 2014, com o projeto sob nº 513, no contexto do “pacotaço”, enviado pelo governador à ALEP. Foram 34 deputados favoráveis e 16 contrários ao aumento do tributo. Esses detalhes são importantes para reforçar o contexto da relação de forças e o papel do legislativo na sociedade. Compreender porque o governo não mede esforços para manter a sua base de aliados predominante no Poder Legislativo. São interesses em jogo. E, não são os interesses da população paranaense que, em sua maioria, votou no atual governador, por duas vezes, e no conjunto de deputados que representa o ideário conservador e interesses individuais, de classe “dominante” no seu aspecto político e econômico.
Estamos diante de dois projetos de sociedade e de educação. De um lado as lutas para o fortalecimento da “qualidade da educação” e, de outro lado a racionalidade econômica, a difusão da ideia de ser necessário um “Estado mínimo” na educação e demais áreas sociais. 
Importante notar que a origem das manifestações está, aparentemente, nos últimos acontecimentos. Mas, é preciso ir além: a origem está no aprofundamento do projeto societário que afeta direitos conquistados com muita luta e fortalece setores já privilegiados como o do agronegócio, forte no estado do Paraná. A origem está no retorno das práticas neoliberais instaladas com o governo Lerner na década de 1990, dentre elas a privatização de serviços públicos.  
As manifestações ficaram mais visíveis, no espaço público, a partir do dia 7 de fevereiro de 2015, quando a APP-Sindicato realizou assembleia de professores, no município de Guarapuava, Região central no estado do Paraná. Conforme notícias da APP, mais de 7 mil professores compareceram à assembleia, votaram pela Greve a partir do dia 9/2/2015. 
Com a aprovação de greve por parte dos professores da rede pública estadual, as regionais da APP-Sindicato têm realizado manifestações locais e extrema concentração em frente à ALEP – Assembleia Legislativa do Paraná.
Os docentes das universidades estaduais realizaram assembleias de docentes nos respectivos sindicatos e votaram pela greve, nas seguintes datas: SINDUEPG[4]: Assembleia em 5/2/2015; ADUNICENTRO[5]: Assembleia em 9/2/2015; SINDUNESPAR: Assembleia em 10/2/2015; ADUNIOESTE[6] – Assembleia em 11/2/2015; ADUEL[7], UENP e SESDUEM[8]: Assembleia em 12/2/2015. Posteriormente, assembleia dos sindicatos dos servidores também foram realizadas, adensando o coletivo em greve.  
A relação de forças entre governo e sociedade civil fica visível no primeiro dia de manifestação, quando a audiência pública, agendada para acontecer no dia 9/2/2015 no Plenarinho da ALEP foi cancelada. Mais de cinco mil professores em frente à ALEP.
Desde o dia 10 de fevereiro de 2015 a sociedade civil, leia-se classe trabalhadora da educação, encontra-se em estado de manifestação em frente ao Palácio do Iguaçu, na ALEP. Concomitantemente, todas as regionais da APPSindicato [Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná][9] encontram-se em atos coletivos, em colegiados que reúnem os professores e servidores das universidades e os professores da rede estadual de ensino. De outro lado, a sociedade política, o poder legislativo, com maioria de deputados [representantes do povo paranaense] favoráveis aos dispositivos presentes nos projetos de leis que o governador deseja aprovar em caráter de urgência.[10] A ala que defende ideologia voltada ao agronegócio e ao “enxugamento” do Estado na área social está fortemente presente na ALEP. Muitos deputados oriundos de famílias antigas da política paranaense, defensores da “tradição, família e propriedade privada”.
Aqui evidencia-se a o aparato policial no conjunto da relação de forças
apresentada. De um lado o executivo e o legislativo; de outro a sociedade civil.
Os deputados foram levados em camburão para a ALEP. Cenas que percorrem as páginas das redes sociais e dão espaço para piadas e charges.
Nesse dia 12 de fevereiro, a ALEP foi ocupada pelas organizações e movimentos sociais. Houve confronto, feridos, projeto retirado da pauta, deputados “acuados” em salas no prédio da ALEP. Professores da rede pública estadual e professores das universidades ocuparam a Assembleia Legislativa. Nas redes sociais apareciam frases e reflexões sobre o governo Álvaro Dias, há 27 anos. As cenas se repetiam na memória de muitos professores. Há 27 anos a cavalaria em direção aos professores. Hoje, bombas, cachorros .... em nome da “democracia” e da “sustentabilidade das finanças de um dos estados que mais arrecada tributos”.
 O confronto entre professores e governo se fortalecendo no estado do Paraná, o que nos faz pensar sobre o lugar que a educação ocupa no projeto político hegemônico em franca ascensão no país. Esses confrontos fortalecem a classe trabalhadora, potencializam a consciência coletiva.
Por que as universidades estaduais estão em greve e em trabalho colegiado com a APP-Sindicato?
Entra em cena o conteúdo do denominado “pacote de maldades” ou  “pacotaço do governo Beto Richa”, cuja essência é:
 
1) Criação do Fundo de Previdência Complementar. Sobre esse assunto, a ADUCENTRO elaborou análise que recortamos e reproduzimos.[11] 
Atual modelo de previdência: - É por repartição e para todos; - Há pacto entre gerações; - Acolhe servidores afastados, aposentados por invalidez permanente, ou por idade ou tempo de serviço; - Servidores públicos contribuem com 11% da totalidade dos seus vencimentos; - Os aposentados também irão contribuir com igual percentual sobre o montante de seus vencimentos que excede o teto do RGPS-PR. (Medida votada na ALEP às vésperas do natal do ano passado); - Os vencimentos da aposentadoria são calculados,
“considerando-se a média das maiores remunerações, utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado, correspondentes a 80% de todo o período contributivo, ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência”.
Projeto atual do governador Carlos Alberto Richa: - Servidores que forem contratados após a implantação da PREVCOM PARANÁ se aposentarão com as regras definidas no novo regime, com as seguintes características: - A complementação dos vencimentos de aposentadoria depende unicamente das contribuições individuais de cada servidor, acrescidas da contribuição patronal, paritariamente; - Não há pacto entre gerações; - Coloca parte dos recursos da previdência dos servidores no mercado financeiro; - Empurra para o mercado o futuro dos servidores públicos estaduais do Paraná; - É risco zero para [os órgãos públicos], risco total para o servidor; - É regime privatizante da previdência; - Penaliza quem se aposenta com menor tempo de contribuição: mulheres, professores e outras aposentadorias especiais. Estima-se que os benefícios da aposentadoria para os homens serão superiores àqueles concedidos às mulheres, que possuem expectativa de vida mais longa, salários mais baixos, menos anos de contribuição, dentre outros fatores; - Servidor terá assegurado somente o teto do RGPS (Regime Geral da Previdência Social), que hoje é de R$ 4.663,76; - Servidor contribuirá com 11% dos seus proventos até o teto do RGPS, e mais o percentual de 7,5% (ou outro valor que defina pessoalmente, “observado o disposto no regulamento do plano de benefícios”) sobre o que exceder o teto do RGPS, à PREVCOM PARANÁ, por toda a vida laboral.
Os atuais servidores públicos que aderirem à PREVCOM PARANÁ – aposentadoria mista: - Terão assegurado o teto do RGPS; - A complementação da aposentadoria dependerá de quanto o servidor contribuiu, do seu tempo de contribuição e do rendimento deste recurso no mercado financeiro, ficando sujeito aos riscos inerentes de aplicações no mercado financeiro; - O “canto da sereia” do governo será a concessão de um benefício especial, calculado com base nas contribuições recolhidas ao regime próprio, no tempo desta contribuição em relação ao tempo de vida laboral e o teto do regime geral. Exemplo: servidora que se aposentaria pelo RPPS (Paraná Previdência: modelo atual) com R$ 5.000,00 após 30 anos de trabalho e que optar pela FUNPRESP aos 15 anos de trabalho. Neste caso, receberia o teto do RGPS (R$ 4.663,75), acrescido de R$ 550,00 relativos ao tempo de contribuição para o RPPS, e a complementação do fundo de previdência; valor este indefinido.
2) Projeto encaminhado à ALEP contendo conjunto de medidas a saber: Extinção do Adicional por Tempo de Serviço [quinquênio], do anuênio [aumento de 5% ao salário, a cada ano, a partir do 31º ano de serviço] e da aposentadoria integral dos novos servidores públicos. Discute-se o projeto de autonomia das universidades, projeto que integrava o “pacote de maldades”, e que continua em discussão. Paralelo ao “pacote de maldades”, o governo não pagou o terço de férias do funcionalismo. Além desses pontos, é importante notar que as universidades têm sofrido ano após ano um processo de sucateamento, com ampliação do número de alunos em sala de aula e não contratação de professores. Editais para pesquisa têm sido escassos, assim como a verba para o funcionamento dos programas de pós-graduação stricto sensu. Soma-se a tudo isso a possibilidade de fechamento de universidades públicas que têm importante impacto regional e nacional. 
A ADUNICENTRO divulga notícia da reitoria da UNICENTRO informando sobre o que acontecerá caso a verba de custeio não seja mantida pelo governo estadual:
Não pagamento de serviços prestados por empresas com participação majoritária do Estado, como Sanepar, Copel e Imprensa Oficial;  Suspensão, em 27 de fevereiro, dos contratos firmados com empresas de terceirização de serviços, paralisando a totalidade dos serviços de limpeza, vigilância e manutenção;
Rescisão de todos os contratos dos Estagiários a partir de 27/02/2015; Não pagamento das bolsas mantidas com recursos institucionais, como as dos programas de Tutoria, Monitoria, Iniciação Científica, Iniciação à Extensão, Treinamento Desportivo, Cursinho Pré-Vestibular, Bolsa Indígena, entre outras;
Suspensão do Edital de Auxílio Alimentação destinado aos estudantes com maiores dificuldades econômicas;
Suspensão do Programa de verbas destinadas aos Departamentos;
Suspensão dos recursos do PROAP Institucional;
                                                 Cancelamento de viagens e diárias;    
Suspensão dos processos de compra de materiais, reagentes, equipamentos, entre outros, que demandem recursos de custeio da
instituição.[12]
Observa-se que as conquistas da sociedade brasileira estão em risco. O acesso à Educação Superior e a continuidade dos estudos, amplamente debatidos na segunda metade do século XX, estão em perigo. Quem perde? É a sociedade. É a classe trabalhadora. E, acima de tudo, fragiliza-se a produção de conhecimentos, algo estratégico para o desenvolvimento de toda a sociedade. As questões pontuais têm que ser entendidas a partir de relações históricas, a partir da força da economia e da política no avanço e reforma do modo de produção capitalista. 
A análise de conjuntura exige a revelação da ideologia predominante na correlação de forças; os atores em cena; a relação de forças e os acontecimentos. O momento atual é de expressão da força da sociedade civil, organizada a partir dos sindicatos de professores da rede pública estadual e sindicatos de professores das instituições de educação superior. A colaboração e fortalecimento das manifestações pela educação chegam de vários segmentos de trabalhadores, agentes de saúde, movimentos sociais, partidos políticos. É preciso visualizar esse conjunto da classe trabalhadora. A participação mais recente é a dos caminhoneiros que fizeram manifestações deram visibilidade a mensagens de apoio aos professores e de indignação com o governo do estado do Paraná. 
Os principais lemas das manifestações têm sido: “Tô na luta”; “Luto por
Educação”; “Fora Richa” entre tantas outras.
A história não pode ser esquecida. Há um projeto político em andamento no Paraná e ele dá continuidade ao ideário implantado pelo governador Lerner ao final da década de 1990. Temos que lembrar que à época, o então governador defendia a “autonomia universitária plena”, ou seja, a didático-científica existente e a econômica, que, para bom entendedor basta, de vertente privatista e atendendo a ditames do Banco Mundial.
A luta continua ..... a concentração e várias manifestações continuam em frente a ALEP, com passeata indicando “Fora Beto Richa”! 
Coloca-se às claras o projeto hegemônico defendido pelo governador reeleito, com fortes impactos na educação, haja vista que não faz parte desse projeto a efetivação da educação emancipatória [nem no seu sentido político e muito menos no sentido humano]. O conhecimento dos fatos requer a relação com a totalidade e especialmente com os condicionantes estruturais históricos.
Em síntese, os trabalhadores da educação estão em manifestação contra esses fatos recentes. Entretanto, importante registrar que o pano de fundo das manifestações e movimentos que marcam o estado do Paraná há longa data relaciona-se à força ideológica que faz predominar condicionantes estruturais históricos importantes no estado, a exemplo de: continuidade de determinadas famílias no poder político; concentração da terra; programas de avanço das atividades do agronegócio, ou seja, são os elementos que determinam o projeto hegemônico que marca o Estado e que é interrogado pelos movimentos sociais e amplamente divulgado nas atuais manifestações sociais. 
Eis o manifesto dos caminhoneiros, divulgado nas redes sociais em 21/2/2015.
          
          
As manifestações continuam, inclusive com petição para ser assinada digitalmente que circula nas redes sociais, organizado por Renato Janine Ribeiro, em defesa das universidades estaduais do Paraná. Eis o teor da petição:
Governador do Estado do Paraná, Carlos Alberto Richa.: Em defesa das universidades estaduais do Paraná
 
Sr. Governador do Paraná, Carlos Alberto Richa; Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, deputado Ademar Traiano; Sr. Secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes; Sr. Secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa. 
As sete universidades estaduais do Paraná formam, perto de suas congêneres paulistas e fluminenses, o grupo das melhores instituições mantidas pelos Estados da Federação. Mas hoje elas vivem uma situação inquietante, com atrasos significativos nos repasses do Governo, como pudemos ouvir, estes dias, em entrevistas à mídia dos Magníficos Reitores das Universidades Estaduais de Londrina, de Maringá e do Centro-Oeste do Paraná. Essas e as demais universidades estaduais paranaenses correm o risco de suspender em curtíssimo prazo parte substancial de suas atividades, o que imporá danos graves não só à formação de profissionais como também à pesquisa realizada no Estado e portanto a seu papel no Brasil.  Uma universidade demora a ser montada, requerendo a dedicação de intelectuais, cientistas e professores, o empenho de seus funcionários, o suporte financeiro de agências diferenciadas e o interesse dos alunos, de suas famílias e cidades. Mas é fácil destruir isso tudo. Basta não serem cumpridos os compromissos orçamentários, que essa laboriosa construção da sociedade e Estado paranaenses será solapada em seus alicerces. Reconstruí-la será custoso e difícil, podendo até se mostrar inviável.  Por estas razões, a comunidade acadêmica brasileira pede a V. Exa. que mantenha os compromissos financeiros assumidos pelo Poder Público e pela sociedade paranaenses com as Universidades Estaduais do Paraná, dando continuidade à interiorização, com qualidade, de tudo o que a universidade pode proporcionar: formação de profissionais, qualificação da pesquisa, impacto na gestão pública, na economia e na formação da sociedade.
 A luta continua! A APP-Sindicato convoca megamanifestação para o dia 25/2/2015, em frente à ALEP. Os sindicatos de docentes das universidades públicas demandam reunião com o governador. Os reitores das IES têm reunião com o governador para decidir os rumos das universidades. Importante notar as pautas dos movimentos sociais, a pauta dos reitores e a pauta do governador. Essas pautas, projetos revelam ideologias e o teor do projeto político-societário em defesa. Existem interesses maiores em jogo. Não podemos perder de vista o debate sobre “autonomia universitária” e sobre o “Paraná Previdência”. Esses dois pontos geram impactos a longo prazo no processo de formação humana e nas relações de trabalhos. Acima de tudo, temos que perguntar: Qual é o projeto de sociedade em marcha na sociedade? Qual é o projeto político que o “movimento social da educação” defende? Ou, não há movimento social da educação? Existem manifestações? Interrogações para pensar e debater – afinal, o que há por trás das grandes manifestações? E, o que há por trás de movimentos sociais de trabalhadores com projeto político definido? Os meios de comunicação, como apresentam a pauta e o objetivo das manifestações? As temáticas e reivindicações pontuais ocultam a contradição maior – enfrentamento de classes!

Curitiba, 22 de fevereiro de 2015.

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Natural de Ponta Grossa/PR. Graduado em Engenharia Elétrica. Cursou o Management Training Course da Escola de Business Administration da Western Ontario University (Canadá). Foi presidente da Telecomunicações do Paraná, diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional e presidente da Telecomunicações Brasileiras. Foi também professor da Universidade Federal do Paraná.
[2] Auditor fiscal, natural de Niterói RJ. É formado em Administração de Empresas. Foi secretário das Finanças da prefeitura de São Paulo de 2003 a 2004 e de 2011 a 2012, secretário estadual da Fazenda de São Paulo de 2007 a 2010 e secretário das Finanças de Salvador nos dois últimos anos. Ele também
[3] O teor da Nota Pública está disponível em http://www.oabpr.com.br/Noticias.aspx?id=20583. Acesso 21/2/2015.
[9] APP-Sindicato disponibiliza informações diárias sobre a greve em http://www.appsindicato.org.br  
[10] Os 54 deputados da ALEP estão assim dispostos nos partidos políticos: PSC: 12 deputados; PMDB: 9; PSDB: 6; PDT e DEM: 4 deputados cada; PSD e PT: 3 deputados cada; PPS, PSB e PP: 2 deputados cada; PSL, SD, PPL, PRB, PP, PV e PTB: 1 deputado cada.
[11] A matéria completa está disponível em http://adunicentro.org.br/novo/?p=6685. Acesso em 21/2/2015. Também, em http://adunicentro.org.br/novo/?p=6692. Acesso em 21/2/2015.
[12] Notícia disponível em http://adunicentro.org.br/novo/?p=6781. Acesso em 21/2/2015.
 
Obs.: Algumas das imagens presentes no documento original não puderam ser apresentadas nesta postagem devido a questões técnicas, mas elas podem ser encontradas na página da APP-Paraná.
 
 
Disponível em:http://www.appsindicato.org.br/Include/Paginas/noticia.aspx?id=11076.
Acesso em:01março2015.
 

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