sábado, 18 de agosto de 2012

Arborização de Calçadas


Perci Guzzo

Ter e manter árvores nas calçadas, defronte casas, prédios habitacionais, estabelecimentos comerciais e públicos é tão importante quanto ter e manter árvores nas praças, nos parques e nos quintais. 

A arborização urbana é o conjunto das árvores que existe na cidade e ocupa diferentes espaços públicos e privados. Isoladas, agrupadas ou na forma de fragmentos naturais, matas e cerrados, sua importância à qualidade de vida é inquestionável, sobretudo porque melhora as condições físicas do ambiente urbano. O ar que você e eu respiramos numa área bem arborizada é mais digno.

Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre-RS (Fonte)

O espaço das árvores nas calçadas está cada dia mais exíguo. Nossas calçadas são muito estreitas e fica difícil ter tanta coisa no mesmo lugar. Postes, fios, placas de sinalização de trânsito, redes subterrâneas de água e esgoto, guia rebaixada para acesso de automóveis nas garagens, passeio para pedestres e bichos de estimação e árvores. Por isso, as calçadas dos futuros bairros precisam ser mais generosas para que o pedestre possa desfrutar de sombra e beleza.

E não é que neste ano o rosa e o amarelo dos ipês apareceram quase que ao mesmo tempo! Um atrasou e outro adiantou a florada. Daqui a pouco é a vez do outro dar o ar da alva graça. Nos bairros novos já implantados e nos antigos, é possível arborizar e rearborizar as calçadas. Bastam competência técnica, recursos e envolvimento dos moradores e comerciantes. Mas há dois fatos muito atuais em Ribeirão Preto que verdadeiramente dizima e mutila a arborização de calçadas: o rebaixamento de guias para permitir o acesso de veículos nos estacionamentos privativos dos estabelecimentos comerciais e as podas drásticas efetuadas por pessoas não preparadas que cobram por esse (des)serviço.

No primeiro caso, a própria legislação municipal oficializa a presença do automóvel nas calçadas, espaço outrora compartilhado apenas entre pedestres e árvores. Basta associar o que dispõe a nova lei de uso e ocupação do solo em seu Anexo 8, que obriga quantidade x de vagas para carros em função do tamanho do comércio, com a lei que trata de rebaixamento de guias, cuja permissividade atinge a possibilidade de rebaixar 100% da testada frontal do terreno! Enquanto isso, em outras cidades, a legislação restringe a quantidade de vagas para veículos para desestimular o acesso por automóveis. Não é muito mais democrático, saudável e sensato, manter as guias normais, cujos condutores podem estacionar em qualquer ponto da rua e fazer um pequeno percurso na sombra até o prédio de destino? A exceção são as vagas reservadas a deficientes físicos.

No segundo caso, é necessário envidar esforços para capacitar e profissionalizar a execução de serviços relacionados ao manejo da arborização urbana. A prática da poda deve ser executada considerando técnicas e ferramentas adequadas, fato já previsto na legislação ambiental do Município.

A despeito de muitos ribeirão-pretanos desejarem árvores fortes, frondosas, amigas e acolhedoras, ainda prevalece aqui atitudes e situações que provocam a desarborização. A solução passa, obrigatoriamente, por reservarmos espaço na cidade e tempo em nosso olhar para as árvores da cidade!

"A coisa mais civilizada do mundo, é uma bela árvore" (Millôr Fernandes). 

(Perci Guzzo é ecólogo, mestre em Geociências, professor de Ecologia e pesquisador colaborador do Grupo de Estudos da Localidade).

Texto Publicado na Gazeta de Ribeirão em 14 de Agosto de 2012.

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