sábado, 27 de agosto de 2011

Água x Aridez

Em Biogeografia área do conhecimento que estuda a distribuição das plantas e dos animais no mundo, inclusive nos tempos passados, encontramos a Teoria dos Refúgios Florestais.
As florestas se retrairam acentuadamente na América do Sul quando o clima esteve mais seco e frio, no final do Pleistoceno; entre 13.000 e 18.000 anos A.P. (antes do presente).

Neste período, as formações savânicas, caatingas e cerrados, ocuparam um espaço superior ao atual, devido a pouca umidade e escassez de água. Ainda hoje, em meio a matas densas, como por exemplo no Parque Estadual do Morro do Diabo, no Pontal do Paranapanema (SP), encontram-se espécies de cactos, bromélias e orquídeas que provam tal fato.

Com o advento da umidificação do ambiente, as florestas reocuparam grandes porções do território sul americano. Quando os europeus aqui chegaram, as florestas já recobriam a maior parte do nosso continente; estávamos no chamado “optimum climático”. Os cerrados e caatingas não são menos importantes do que as florestas, pois guardam riquíssima biodiversidade. No entanto, a vida prospera com maior dificuldade em ambientes mais secos.

A Ecologia da Paisagem, que busca entender como funcionam os processos ecológicos no espaço geográfico, traz o conceito de Efeito de Borda. Com os desmatamentos, a vegetação natural que resta, resulta em fragmentos isolados. Uma faixa de 200 a 400 metros do limite da mata para o seu interior sofre influências diretas da sua vizinhança imediata, que pode ser agricultura, pecuária ou cidade.

Estas bordas são menos úmidas do que o interior da mata. Por isso, a variedade de espécies se torna inferior; a biomassa diminui, o que compromete a capacidade de sequestrar o CO2 em excesso na atmosfera; e a água superficial e subterrânea também escasseia.
Isto prova que nós, seres humanos, geramos, invariavelmente, ambientes mais áridos que repercutem negativamente nos ambientes efetivamente vivos. A vida numa floresta natural é infinitamente mais abundante do que num canavial.

A nossa sobrevivência depende da existência dos ambientes naturais. São eles que prestam os chamados serviços ecossistêmicos: manutenção da qualidade do ar, da água, do solo, da estabilidade do clima e a sobrevivência das plantas, animais e microorganismos. A água tem um papel fundamental nisso: é ela quem faz a ponte entre o biótico e o abiótico. É em meio aquoso que ocorre a grande maioria das reações químicas que mantém os ecossistemas em funcionamento.
Perci Guzzo é ecólogo.

Publicado na Gazeta de Ribeirão - 24 de Agosto de 2011.

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